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  • cristiano300781

Erros de tradução podem custar caro

Já parou para pensar que a história poderia ter sido diferente se erros de tradução, como os que citaremos abaixo, não tivessem sido cometidos? No artigo de hoje falaremos sobre alguns erros que custaram caro!



Difícil precisar quando a tradução se iniciou, mas certamente ela acompanha a humanidade desde os primórdios, quando povos de diferentes regiões passaram a interagir e fazer trocas de mercadorias, acordos nupciais, alianças, colonizações, entre outros. Agora imagine quantos desentendimentos aconteceram por erros nas traduções nessas interações, sejam elas propositais ou não. Certamente alguns passaram despercebidos e sem maiores consequências, no entanto, muitos deles custaram caro e causaram até guerras e mortes. Abaixo listamos alguns erros que causaram grandes prejuízos financeiros e diplomáticos.


Erro atômico


Em 26 de julho de 1945, o presidente dos Estados Unidos, Harry S. Truman, o primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill, e o presidente da China, Chiang Kai-shek, emitiram o documento que delineou os termos de rendição do Império do Japão, a Declaração de Postdam, exigindo sua rendição e ameaçando com a destruição imediata e total. A declaração, entretanto, não foi transmitida ao governo japonês por canais diplomáticos; ela foi divulgada à imprensa naquela noite no idioma inglês e, duas horas depois, começou a ser transmitida em japonês. Ao mesmo tempo, bombardeiros americanos lançaram sobre o Japão mais de 3 milhões de panfletos descrevendo a declaração. Um repórter pediu uma declaração do então Primeiro-ministro japonês, Kantaro Suzuki, e o governante escolheu somente a palavra Mokusatsu. O termo deriva de moku (silêncio) e satsu (matar) e sua tradução literal é algo como “matar com o silêncio”. Contudo, é uma expressão que significa algo como "sem comentários". O primeiro ministro provavelmente queria ganhar tempo para uma resposta mais elaborada, mas a resposta foi vista como uma afronta. Dez dias depois, as cidades de Hiroshima e Nagasaki foram bombardeada. Alguns dizem que os governantes dos países aliados entenderam o recado, mas fica a dúvida se esse fator teve grande influência para a decisão final.


Erros de tradução na Guerra Fria


Em 1956, o discurso do primeiro-ministro soviético Nikita Khrushchevna na Embaixada polonesa em Moscou quase desencadeou uma crise mundial devido a uma tradução equivocada. Ele usou a expressão "Мы вас похороним!", que foi traduzida para o inglês por "We will bury you", ou seja, "Nós vamos enterrá-los". Os presentes, principalmente os embaixadores dos países ocidentais, a consideraram uma ameaça direta.

Entretanto, a expressão russa é comumente usada para dizer algo como "estaremos no seu enterro", ou seja, nós viveremos mais tempo que vocês, indicando uma visão de longo prazo sobre a competição entre os sistemas políticos.

Ao longo dos anos, Khrushchev ofereceu diversas explicações para suas palavras. Em uma ocasião, em 1959, durante um evento no National Press Club, em Washington, ele esclareceu que suas palavras não deviam ser interpretadas literalmente, mas sim como uma expressão de sua convicção de que o socialismo superaria eventualmente o capitalismo em termos de desenvolvimento humano e social.


Visita deselegante


Em 1977, o presidente dos EUA Jimmy Carter é recebido pelo governo da Polônia.
Presidente dos EUA, Jimmy Carter, na Polônia, 1977.

Em 1977, durante uma visita à Polônia, o ex-presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, protagonizou uma série de incidentes devido a falhas de tradução. O primeiro deles ocorreu durante um discurso oficial, no qual Carter expressou sua vontade de conhecer os desejos para o futuro do povo polonês. No entanto, o intérprete, cuja fluência em polonês era questionável, transformou a frase inocente em uma declaração sugestiva de que Carter tinha desejos eróticos em relação aos poloneses.

O caos linguístico continuou quando o presidente disse que tinha deixado os Estados Unidos naquela manhã, mas o tradutor disse que ele tinha partido para nunca mais voltar. A cereja do bolo deste tradutor foi quando Carter expressou sua satisfação em visitar a Polônia, mas esse mesmo tradutor transformou a frase em algo totalmente inapropriado sobre agarrar partes privadas.

Diante desses desastres de tradução, Carter decidiu trocar de intérprete. No entanto, mesmo com um novo tradutor, a situação não melhorou. Durante uma palestra subsequente, o presidente percebeu que o público não reagia às suas palavras, pois o novo intérprete tinha dificuldades em entender o seu inglês. Diante do temor de mais equívocos, o tradutor optou por permanecer em silêncio.

Esses incidentes renderam a Jimmy Carter o título de piada na Polônia, transformando sua visita em um episódio memorável de confusões linguísticas e mal-entendidos.


Erro de tradução bilionário


O impacto de uma tradução errada também pode afetar o mercado financeiro. Um exemplo disso é o caso ocorrido em 2010, envolvendo a jornalista chinesa Guan Xiangdong. Em sua reportagem sobre o mercado cambial e a moeda chinesa, o yuan, uma tradução incorreta gerou grandes consequências financeiras. Um site norte-americano, por um erro de tradução, alterou o conteúdo da reportagem, transformando especulações sobre a valorização do yuan em uma declaração factual. Isso levou até mesmo agências de notícias respeitadas, como a Bloomberg, a publicar a informação equivocada.

O resultado foi um frenesi no mercado financeiro, com corretores investindo em outras moedas asiáticas sob a crença de que estavam fazendo um bom negócio. Estima-se que o mercado cambial tenha movimentado cerca de 2 bilhões de dólares em questão de minutos.

Contudo, ao final do mesmo dia, os equívocos foram percebidos pelos sites de notícias e corretoras, destacando a importância da precisão na tradução e os riscos associados a interpretações errôneas em um contexto tão sensível quanto o mercado financeiro.


Erro Bíblico

A escultura Moisés, de Michelangelo, feita em 1515.
Moisés, Michelangelo, 1515.

São Jerônimo, considerado o patrono dos tradutores, empreendeu um estudo meticuloso do hebraico para realizar a tradução do Antigo Testamento para o latim no final do século IV. No entanto, sua dedicação linguística não impediu que um erro notável se infiltrasse em sua obra.

Durante o processo de tradução, um equívoco crucial surgiu, gerando consequências que ecoariam por séculos. O versículo descreve o rosto de Moisés após descer do Monte Sinai e utiliza a palavra hebraica "karan" (קרן).

Entretanto, esta palavra pode ser lida de duas formas, como "keren" (קֶרֶן), que significa "chifre", e como "karan" (קָרַן) que significa "brilhante, radiante". O versículo, de forma correta, diz: “Moisés não sabia que o seu rosto resplandecia (karan) por ter conversado com o Senhor”! (Êxodo 34:29).

O impacto desse erro foi significativo e duradouro. Inúmeras pinturas e esculturas antigas retrataram Moisés com chifres, incluindo a icônica obra de Michelangelo, o "Moisés", localizado na Basílica de São Pedro in Vincoli, em Roma.



Estes incidentes históricos destacam não apenas a importância da precisão na tradução, mas também a complexidade e os desafios inerentes ao processo de transposição linguística entre culturas tão diversas. Estas histórias nos lembram e alertam que, mesmo os mais habilidosos tradutores, não estão imunes a equívocos, e que a vigilância e a cautela são essenciais para evitar interpretações distorcidas e representações inadequadas.


Você conhecia algum destes erros? Nos conte nos comentários!


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