Com o desenvolvimento das tecnologias, fica sempre a pergunta: A máquina de tradução automática pode substituir a tradução humana? Neste artigo, publicado originalmente no portal MultiLingual, podemos ler um exemplo de quando a tradução humana é necessária.

Quando se trata de aplicação da lei, a tradução automática não substitui a humana
Leia o texto original em inglês aqui.
Quando um confronto grave se deu no estacionamento de um supermercado, uma pessoa que estava de passagem, cheia de boas intenções, tentou apaziguar as coisas e impedir que a briga tomasse maiores proporções. Em meio ao caos, essa pessoa brandiu sua arma, esperando os envolvidos se dispersassem e fossem cuidar de suas vidas. Intimidados, os indivíduos que estavam brigando contataram a polícia.
Os policiais chegaram ao local para questionar o espectador, e acabaram descobrindo que ele não falava inglês muito bem. Não obstante, os policiais se comunicaram em inglês, usando um aplicativo de tradução automática gratuito para verter as perguntas ao idioma nativo dele, o russo (e vice-versa).
"Eles o interrogaram utilizando essa ferramenta de tradução e determinaram, com base na comunicação, que tinham provas suficientes para prendê-lo e processá-lo por intimidar e ameaçar pessoa com a arma", disse David Utrilla, CEO da empresa de serviços linguísticos US Translation Company, que recentemente fez um post que teve bastante repercussão no Linkedin sobre a sua experiência como testemunha especialista no caso descrito acima.
O site MultiLingual falou com Ultrilla para saber mais sobre o caso e como o seu testemunho sobre tecnologia do discurso e tradução automática fooi um fator a favor da absolvição do espectador. Para proteger a privacidade do réu, Ultrilla não divulgou informações de identificação, como nome, localização ou momento do incidente, mas conseguiu compartilhar alguns dos problemas que podem surgir quando oficiais que aplicam a lei lançam mão da tradução automática para questionar indivíduos com proficiência limitada em inglês.
De acordo com Ultrilla, os policiais usaram a configuração de comunicação de uma ferramenta de tradução automática gratuita para questionar o réu. Voltada para usos informais, a configuração de comunicação tem por objetivo permitir que duas partes falem em seus idiomas de preferência, traduzindo a fala para a língua de preferência do ouvinte. Entretanto, ferramentas como esta têm muito espaço para erros, tornando-as menos do que ideais, principalmente em momentos delicados.
Em seu testemunho, Ultrilla explicou que ferramentas de tradução automática conversacionais têm dois passos principais: transcrição da inserção do idioma fonte, seguido por uma tradução para o idioma alvo. Se uma palavra na língua fonte não for transcrita adequadamente, a tradução, por sua vez, passará o sentido pretendido do falante de forma incorreta. Além disso, uma transcrição perfeita não garante uma tradução perfeita - ao passo que Ultrilla reconhece que a tradução automática tem feito avanços importantes nos últimos anos, ele aponta que ainda não é necessariamente 100% precisa. Graças ao depoimento de Ultrilla, o réu foi absolvido.
Ao invés de utilizar uma ferramenta de tradução automática, Ultrilla observou que a polícia deveria ter contatado um intérprete para oferecer assistência linguística. "Algo dessa magnitude legal requer tradução humana", ele disse, apontando que, neste exemplo, a polícia poderia ter acessado um intérprete se eles tivessem pensado em contatar alguém.
Para tradutores e intérpretes, eu quero dizer: Você não é obsoleto, você é importante, você é necessário e você sempre será necessário.
De fato, defensores do acesso à linguagem têm apelado às agências de aplicação da lei a educar melhor os oficiais e outros funcionários sobre suas políticas locais de acesso à linguagem para evitar que episódios como esse ocorram.
Ultrilla falou para a MultiLingual que ele compartilhou sua experiência no Linkedin para inspirar tradutores, intérpretes, linguistas e outros profissionais da indústria de serviços linguísticos a pensar sobre formas de usar suas habilidades para ajudar os outros a quebrar barreiras de idiomas. Embora muitos achem o crescimento da tradução automática ameaçador, Ultrilla observa que este caso é prova de que tradutores e intérpretes humanos nunca se tornarão de fato obsoletos.
"Eu trabalho há 27 anos e tenho visto a evolução da indústria em relação às tecnologias de tradução", ele disse. "Para tradutores e intérpretes, eu quero dizer: Você não é obsoleto, você é importante, você é necessário e você sempre será necessário."
Autor do texto: Andrew Warner
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